O que é conjuntura?
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Combinação ou concorrência de acontecimentos
ou circunstâncias num dado momento.
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Conjunção de elementos de que depende, num
dado momento, a situação política, econômica, social, etc. dum país ou de um
grupo de países ou de uma região.
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Uma configuração dada, definida num tempo
curto.
O que é análise de conjuntura?
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A análise de conjuntura é uma mistura de conhecimento
e descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz
sempre em função de alguma necessidade ou interesse.
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Não há análise de conjuntura neutra,
desinteressada: ela pode ser objetiva mas estará sempre relacionada a
uma determinada visão do sentido e do rumo dos acontecimentos.
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A análise de conjuntura é não somente parte
da política com é si mesma um ato político.
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Faz análise política quem faz política, mesmo
sem saber.
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Exemplo: quando um analista de RI vai a um
programa de TV analisar as eleições americanas ele omite opiniões que podem
influir a opinião pública sobre tal ou qual candidato.
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Análise de conjuntura é uma tarefa
complexa, difícil e que exige não somente um conhecimento
detalhado de todos os elementos julgados importantes e disponíveis de uma
situação determinada, como exige capacidade de perceber, compreender,
descobrir sentidos, relações, tendências a partir dos dados e das
informações.
Categorias para análise de
conjuntura
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Para fazer análise de conjuntura são
necessárias algumas ferramentas próprias para isso.
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São necessárias definir algumas categorias de
análise.
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É preciso ter um método de análise
Categorias para análise de conjuntura
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Acontecimentos
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Palco dos acontencimentos
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Atores
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Relação de forças
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Articulação (relação) entre “estrutura” e
“conjuntura”.
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Outras indicações que se deve levar em conta
na análise de conjuntura
Acontecimentos
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Fato x Acontecimento
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Na vida real acontecem milhares de fatos
todos os dias em todas as partes mas somente alguns desses fatos são
considerados como acontecimentos.
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Acontecimentos são fatos que adquirem um
sentido especial para um país, uma classe social, um grupo social ou uma
pessoa.
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Existem ocorrência que se constituem em
“acontecimentos”, tais como greves gerais, eleições presidenciais, guerras,
catástrofes, descobertas científicas de grande alcance.
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Essas ocorrências por sua dimensão e seus
efeitos afetam o destino e a vida de milhões de pessoas, da sociedade em seu
conjunto.
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Exemplo: O fracasso da Rodada de Doha pode
ser considerado um “acontecimento” dadas as repercussões futuras que terá nas
relações internacionais de comércio nos próximos anos.
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Na análise de conjuntura o importante é
analisar os acontecimentos, sabendo distinguir fato de acontecimento e,
depois, distinguir os acontecimentos segundo sua ordem de importância.
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Essa importância e peso são sempre
relativos e dependem da ótica de quem analisa a conjuntura, pois ela pode
ser ótima para uns e péssima para outros.
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Identificar os principais acontecimentos
num determinado momento, ou período de tempo, é um passo fundamental
para se caracterizar e analisar uma conjuntura.
Palco dos acontecimentos
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As ações da trama social e política se
desenvolvem em determinados espaços que podem ser considerados como o palco dos
acontecimentos.
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O palco de um conflito pode se deslocar de
acordo com o desenvolvimento da luta: passar das ruas e praças para o
parlamento, daí para os gabinetes ministeriais e daí para os bastidores.
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O palco dos acontecimentos influenciam o
desenvolvido das lutas sociais; a simples mudança de palco já é uma indicação
importante de uma mudança no processo.
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A capacidade de definir o palco dos acontecimentos
onde as lutas vão se dar é um fator de vantagem importante.
Atores
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O ator é alguém que representa, que encarna
um papel dentro de um enredo, de uma trama de relações.
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Um determinado indivíduo é um ator social
quando ele representa algo para a sociedade (para o grupo, a classe, o país),
encarna uma idéia, uma reivindicação, um projeto, uma promessa, uma denúncia.
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Uma classe social, uma categoria social, um
grupo social, um país ou grupo de países podem ser atores sociais.
•
Instituições também podem ser atores sociais
Relações de Forças
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As classes sociais, os grupos de pessoas,
empresas, países, enfim, os diferentes grupos sociais estão em relação uns com
os outros.
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Essas relações podem ser de confronto, de
coexistência, de cooperação e estão sempre revelando uma relação de força, de
domínio, igualdade ou de subordinação.
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Avaliar essa relação de forças é decisivo se
se quer tirar conseqüências práticas da análise de conjuntura.
Relação entre “estrutura” e
“conjuntura”
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Estrutura é o conjunto de elementos estáveis
que presidem a organização da sociedade, da economia e da política, que lhe dão
uma forma, uma ordem e uma estabilidade.
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Os acontecimentos, a ação desenvolvida pelos
atores sociais, gerando uma situação, definindo uma conjuntura, não se dão no
vazio; eles se relacionam com a história, com o passado, com relações sociais,
econômicas e políticas estabelecidas ao longo de um processo mais longo.
Outras indicações que se deve
levar em conta na análise de conjuntura
•
Perceber o conjunto de forças e problemas que
estão por detrás dos acontecimentos; para se extrair o “sentido” dos
acontecimentos é preciso compreender seu pano de fundo, que nem sempre
está claro.
•
Tão importante quando entender o que já está
acontecendo é estar atendo aos sinais dos fenômenos novos que começam a
se manifestar.
•
É importante buscar o “fio condutor” dos
acontecimentos. É fundamental pesquisar o encadeamento, a lógica, as
articulações, os sentidos comuns dos acontecimentos.
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Existem duas leituras possíveis dos
acontecimentos ou dois modos de ler a conjuntura:
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A partir da situação ou do ponto de vista do
poder dominante (a lógica do poder).
•
A partir do ponto de vista ou do ponto de
vista dos movimentos populares, das classes subordinadas, da oposição ao poder
dominante.
•
De modo geral as análises de conjunturas são
conservadoras: sua finalidade é reordenar os elementos da realidade, da
situação dominante, para manter o funcionamento do sistema (correção de rota).
•
Partir do ponto de vista de quem questiona o status
quo não é “inventar” situações, acontecimentos e correlações de força que
satisfaçam a imaginação de analistas interessados, mas percebe-los a partir da
ótica dos interesses das classes subordinadas, dado que toda análise de
conjuntura só adquire sentido quando é usada como um elemento de transformação
da realidade.
•
A análise de conjuntura de modo geral é uma
análise interessada em produzir um tipo de intervenção política; é um elemento
fundamental na organização da política, na definição de estratégias e táticas
das diversas forças sociais em luta.
•
Uma questão chave na análise de conjuntura é
a percepção da complexidade e da dificuldade em determinar relações de
causalidade de tipo unilinear, simples. Existe um elemento constante de
imprevisibilidade em relação à ação política.
Guia prático para fazer
análise de conjuntura
•
1º passo: identificar fatos e acontecimentos
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A partir da leitura diária dos jornais e
revistas (impressos ou eletrônicos) captar as notícias relacionadas com o tema
em estudo que se tornaram manchete na imprensa (recortar ou imprimir).
–
Ler atentamente as matérias procurando
identificar:
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Os fatos mais importantes (nem sempre o
título da matéria revela o fato mais relevante; é preciso “ler nas
entrelinhas”).
•
Os principais atores em questão (países,
governos, instituições, pessoas).
–
Ordenar os fatos por ordem de importância,
distinguindo “fatos” de “acontecimentos”, registrando-os na planilha 1.
–
Arquivar o material original em uma pasta
temporária, para eventuais consultas posteriores.
2º passo: relacionar fatos e
acontecimentos
–
Na medida em que a planilha for sendo
preenchida, verificar se há correlação de causalidade entre os fatos e
registrar tais correlaçoes por meio de setas. Nas análises sociais, a grande
dificuldade é identificar corretamente a
relação e a correlação entre causa e efeito. Como distinguir corretamente o que
é causa e o que efeito de determinadas conjunturas e estruturas socais.
–
Exemplo:
–
Num caso hipotético onde o objeto de estudo é
a China, registra-se no D1 que houve eleições em Taiwan que foram vencidas por
um partido nacionalista pró-China.
–
No D2 registra-se que houve manifestações
separatistas no Tibet.
–
No D3 registra-se que a China quer fazer dos
Jogos de Pequim a vitrine da China moderna.
–
No D4 registra-se que o Congresso dos EUA
quer aprovar uma tarifa de importação sobre os produtos chineses para compensar
uma taxa de câmbio supostamente desvalorizada.
–
Estes fatos podem estar correlacionados, ou
não.
•
3º passo: relacionar conjuntura e estrutura
–
Na medida em a conjuntura for sendo
identificada, é necessário que o cenarista tenha bem claro a distinção entre
conjuntura e estrutura de forma a:
•
Perceber o conjunto de forças e problemas que
estão por trás dos acontecimentos de modo a identificar o “sentido” dos
acontecimentos e o pano de fundo no qual se desenrola determinada ação.
No caso do exemplo anterior, o
pano de fundo pode a preocupação dos Estados Unidos e demais potencias do
Ocidente com a ascensão econômica da China e com a possibilidade da China vir a
dominar o cenário econômico mundial, desafiando a hegemonia americana
•
4º passo: identificar os palcos dos
acontecimentos
–
É preciso olhar os palcos dos acontecimentos:
espaços sociais, lugares, onde estão ocorrendo os acontecimentos: se é no
Congresso, no Executivo, na sociedade civil; se é numa cidade, região, no país
como um todo, ou na esfera internacional
•
O palco dos dos acontecimentos podem se alterar
rapidamente alterando completamente o sentido e o rumo dos acontecimentos.
•
Exemplos:
–
Uma operação da política federal desencadeada
supostamente para investigar ações ilícitas de um empresário transformou-se num
evento político nacional pondo em confronto os poderes legislativo, executivo e
judiciário.
–
As manifestações pró independência do Tibet
ganharam uma nova dimensão internacional com as Olimpíadas de Pequim.
•
5º passo: identificar os atores
–
É preciso identificar corretamente os agentes
sociais, políticos e econômicos que estão agindo e interagindo. Quem são esses
agentes? São pessoas individuais, grupos organizados, movimentos sociais,
partidos políticos, sindicatos, os meios de comunicação, grupos econômicos
nacionais, internacionais, países, blocos de países?
–
A identificação correta das forças que estão
por trás dos fatos e acontecimentos é um elemento fundamental na análise de
conjuntura, pois a partir dessa identificação podemos identificar corretamente
o “sentido” dos acontecimentos.
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6º passo: identificar a correlação de forças
–
A correta avaliação da correlação de forças é
decisiva para se tirar conseqüências práticas da análise de conjuntura.
–
No caso específico da construção de cenários
prospectivos é preciso estar atento para fatos, acontecimentos e novos atores,
que mesmo estando numa situação de pouca evidência no momento da análise, podem
representar “fatos portadores de futuro” que são elementos fundamentais para a
construção de cenários.
–
Exemplo: pelos dados atuais, o uso da biomassa
com alternativa energética ao petróleo, tem uma importância quase
insignificante; isso não quer dizer, entretanto, que dentro de dez ou vinte
anos essa correlação não se altere e a biomassa se torna numa alternativa de
peso para a geração de energia.
•
7º passo: identificar os “fatos portadores de
futuro”
–
A análise de conjuntura é sempre realizada
com algum propósito. Usualmente, seu propósito é o de orientar a ação política
prática, seja num sentido conversador (correções de rota), seja num sentido
transformador (definir um nova rota).
–
No caso específico deste curso nosso
propósito é o projetar cenários futuros. Nesse sentido, a análise de conjuntura
deverá permitir:
A análise da conjuntura atual
deverá permitir
•
i) a identificação da situação no momento inicial
do estudo
•
ii) a visão clara das principais variáveis e
dos indicadores
•
iii) a identificação dos atores e a
compreensão de seus respectivos papéis
•
iv) a tabulação das principais informações
•
v) a identificação de rupturas
•
vi) a identificação de fatos portadores de
futuro
•
vii) o refinamento dos limites da dimensão em
estudo
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